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terça-feira, 21 de junho de 2011

FUTEBOL EM GRANDES ALTITUDES - UM JOGO CHEIO DE PRESSÕES


A seleção brasileira de futebol acaba de empatar sem gols com a seleção colombiana em Bogotá, capital da Colômbia, a 2640 m acima do nível do mar. Foi o primeiro jogo das eliminatórias para a próxima Copa do Mundo de Futebol em 2010.
E sempre que acontece uma partida de futebol numa cidade bem acima do nível do mar, surge a inevitável polêmica: a altitude vai ou não vai prejudicar o time visitante?
A Fifa anunciou no primeiro semestre que estudava proibir de forma definitiva os jogos oficiais em cidades com altitude acima de 2.500 m justificando que a grande altitude pode prejudicar a saúde dos jogadores (confira notícia no UOL Esporte). La Paz (Bolívia), Quito (Equador) e Cuzco (Peru) não poderiam mais ser palco de jogos oficiais. Bogotá, na Colômbia, também estaria fora se a medida fosse confirmada. Sofrendo grande pressão, a Fifa recuou e mudou a proibição para altitudes maiores do que 3.000 m (confira outra notícia mais recente no UOL Esporte). 
Evo Morales, presidente da Bolívia, chegou a organizar partidas de futebol em grandes altitudes, acima de 5.000 m, só para provar que nada acontece com os jogadores. A polêmica continua. E essa história ainda vai render muitas notícias. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, aposta na conferência sobre esporte a grande altitude, que será realizada em Zurique de 25 a 28 de outubro, onde a Fifa pretende concentrar esforços para analisar também a influência e os efeitos do calor, do frio e da umidade sobre a saúde dos jogadores.
Do ponto de vista da Física, é fato que na medida em que subimos, nos afastando do nível do mar, o ar vai ficando cada vez mais rarefeito. Logo, a pressão atmosférica diminui gradativamente e, naturalmente, surgem dificuldades respiratórias. Habitantes de locais bem acima do nível do mar estão biologicamente adaptados à escassez de oxigênio e possuem maior proporção de glóbulos vermelhos no sangue para aumentar a captação deste gás fundamental para o metabolismo humano e, portanto, para a vida. Quem chega de fora, não tem tempo para se adaptar e, de fato, fica em desvantagem. Além de jogar pior, pode até passar mal e precisar de atendimento de emergência. Eu mesmo já vi muitas partidas corridas e em grandes altitudes em que ao final do segundo tempo jogadores precisaram de atendimento com máscara de oxigênio.
A pressão atmosférica em Bogotá é cerca de 25% menor do que a pressão do ar no Rio de Janeiro e não há como negar que isso afeta a respiração e a captação do oxigênio pelos jogadores não adaptados às condições locais e submetidos a esforços físicos. A bola também sofre um menor atrito aerodinâmico e, portanto, recebe uma menor frenagem do ar, mantendo-se por mais tempo com velocidade maior, o que prejudica a precisão dos passes longos pelos jogadors de ataque e as atitudes reflexas do goleiro e dos jogadores de defesa.
Ironicamente, e para não perder o trocadilho (altitude X atitude), mais uma vez também ficou uma sensação de falta de vontade da seleção brasileira que parecia jogar com o "breque de mão puxado". Se sobrou altitude, faltou atitude! Seria medo de correr e faltar oxigênio no final? Pode até ser. Mas a gente sempre quer ver show. Vimos um joguinho chato e até com riscos para o nosso goleiro Júlio César que, não podemos deixar de destacar, fez boas defesas e ajudou-nos bastante a garantir o magro empate que só não é pior do que uma derrota como a de novembro de 2004 quando levamos 1 X 0 da seleção equatoriana nas eliminatórias para a Copa da Alemanha. O jogo aconteceu em Quito, capital do Equador, a 2850 m acima do nível do mar, cerca de 200 m acima de Bogotá (confira o post onde também abordo o tema da altitude, da falta de oxigênio e da falta de futebol). 
Infelizmente, não teve como não lembrar deste trágico jogo em Quito (2004) ao ver o jogo de hoje em Bogotá. Até o uniforme da seleção colombiana, de camisa amarela, calção azul e meias vermelhas, lembrava o uniforme da seleção do Equador. E o time do Brasil, visitante, jogava com o segundo uniforme, todo azul. Menos pior que desta vez empatamos, não perdemos. Mas ... foi só oxigênio que faltou?  

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